terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Indígenas retomam buscas por avião desaparecido.

Indígenas de quatro etnias retomaram as buscas, por terra, pela aeronave desaparecida na Floresta Amazônica desde o dia 2 de dezembro com sete índios e o piloto. A Associação dos Povos Indígenas Waiana e Aparai emitiu comunicado sobre o retorno dos trabalhos na segunda-feira (7). A Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (Apoianp) também confirmou a retomada.

No comunicado, a associação afirmou que índios dos povos Aparai, Akuriyo, Tiriyo e Waiana, pertencentes às terras indígenas do Parque do Tumucumaque e do Rio Parú D’Este, vão continuar a procura.

O avião fazia um voo entre a aldeia Mataware, na terra indígena Parque do Tumucumaque, no município de Almerim, no Pará, e o município de Laranjal do Jari, no Sul do Amapá. A força aérea brasileira chegou a sobrevoar a área durante 14 dias, mas suspendeu as buscas, assim como o exército brasileiro.
Um grupo de oito garimpeiros e índios que conhecem a região fizeram buscas ao longo de dezembro na região, mas os voluntários também encerraram a procura no dia 2 de janeiro.

Segundo a Apoianp, na segunda-feira, sete indígenas da aldeia Matawaré desceram o rio Parú em direção à aldeia Bona, ponto de encontro das buscas. Garimpeiros vindos do Laranjal do Jari também são aguardados para integrar a equipe. A expectativa é reunir pelo menos 15 homens nas buscas por terra.
Kutanan Waiana, coordenador executivo da Apoianp, informou que a maioria dos voluntários são familiares dos índios que estavam no monomotor de prefixo PT-RDZ e querem uma resposta definitiva do caso. Para se guiar na mata densa, o grupo leva rádios comunicadores, GPS e bússola.

A Associação dos Povos Indígenas disse que só encerrará a procura quando encontrar os desaparecidos, com ou sem vida. Com a ajuda de amigos e familiares dos índios e do piloto, e do dono do avião, alimentos estão sendo arrecadados para garantir a permanência dos voluntários o tempo que for necessário na floresta.

“A gente está fazendo campanha para arrecadar alimentação, entre nossos amigos, pedindo ajuda mesmo e tirando do nosso bolso. O dono do avião também está ajudando muito, assim como os familiares dos indígenas”, falou Flávia Moura, de 29 anos, filha de Jeziel Barbosa de Moura, de 61 anos.

Flávia fala da angústia de viver mais de 30 dias sem notícias do pai.
“Eu estou esgotada, cansada, no meu limite. Não sei mais o que fazer. Não tivemos resposta de nenhum órgão, nenhum se pronunciou sobre ajuda. Estamos sozinhos. Temos o direito de saber o que aconteceu. Não podem [os desaparecidos] simplesmente ficar lá na mata e a gente esquecer, seguir a vida normal. Não tem como isso. Tenho certeza que meu pai está vivo. Em nenhum minuto eu perdi a esperança”, desabafou.

Flávia e os dois irmãos solicitaram ao Ministério da Defesa que as buscas sejam retomadas, dessa vez com a ajuda do exército, por terra. A carta foi enviada à Brasília ainda em dezembro, mas a família segue sem respostas.
Kutanan Waiana conta que a esperança desse retorno à floresta está em um grupo de indígenas que viu o avião passar próximo ao local onde eles estavam caçando. Eles vão junto na expedição, para mostrar em qual direção viram a aeronave pela última vez.

“O dono da aeronave mapeou por GPS a área provável do desaparecimento. Além disso, temos indígenas que viram a aeronave passar bem baixo, próximo ao local onde eles estavam caçando. A ideia é que eles acompanhem a equipe para apontar o caminho. Mas sabemos que deve estar muito mais longe de onde eles viram”, disse Waiana.

Desaparecimento

O avião monomotor, de prefixo PT-RDZ, transportava sete pessoas de uma família de índios, além do piloto. A viagem, que partiu no domingo (2 de dezembro) e fez a última comunicação às 12h06, foi contratada pelos indígenas para fazer o trajeto entre a aldeia Matawaré e Laranjal do Jari.

A região é de difícil acesso e o transporte aéreo é a única forma de se chegar às aldeias. Em função da geografia da região, a maior parte do trajeto é feito em território paraense, pela cidade de Almeirim.

A bordo estava uma família de índios Tiriyó: professor, esposa e três filhos, uma aposentada e o seu genro; além do piloto, Jeziel Barbosa de Moura.
De acordo com Kutanan Waiana, da coordenação executiva da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará, a contratação de pequenos aviões para transporte entre aldeias é comum na região, com viagens que custam entre R$ 3 mil e R$ 10 mil.

No dia 4 de dezembro, a Fundação Nacional do Índio (Funai) caracterizou como “clandestino” o voo e informou que a aeronave transportava pelo menos sete indígenas. A falta de pistas autorizadas na região e a não comunicação da viagem, segundo a Funai, apontam a irregularidade. Flávia assegurou que o pai estava com as documentações regulares para pilotar.


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